sexta-feira, março 31, 2006

Guilhotinas-me a noite

Vestido negro flutua sem o ar carregado. Corto o sorriso ao primeiro ao golpe.
Olhos aquosos.
Mão rodopiante em torno da cintura. Aperto o ventre ao segundo golpe.
Fivela de metal.
Pés ritmados em momentânea alegria. Engulo à pressa ao terceiro golpe.
Alice no País das Maravilhas.
Cabelo enrolado em torno da tatuagem. Arranho o braço ao quarto golpe.
Madeixa ardente.
Inkubus Sukkubus ao limite. Enrolo-me na porta ao quinto golpe.
Corrente semi-circular.
Deslizar sensual de tule por mim. Lacrimejo ao sexto golpe.
Corpo à chuva.
No entanto, inteira em pele, ossos descolantes, cabelo amarrado a mim encosto a cabeça ao peito de Lúcifer enquanto me envolve num único braço.
Derradeiro golpe enquanto fecho os olhos na camisa negra, esfrego o nariz no torso viperino delineado para a tentação, exalo o cansaço sem qualquer intenção.
Palavra de TI.

terça-feira, março 28, 2006

Pesa-me o vazio sobre o olhar

Parece haver palavras sufocadas nas paredes a que me encosto, sinto-lhes o parco respirar em troca de mãos que as leiam e percorro, quase a medo, o relevo em que se mostram.
É mais fácil ouvi-las se colar a face sobre a tinta baça. Por um momento quase que ouvi uma mensagem secular ou não. O respirar perfura-me o ouvido na trajectória da mente.
Abraço este mural de desejos lamentados em/no vento, em que pela existência da inércia do coração, do local errado, da conexão temporal e pessoal incompleta, os sonhos morreram antes do adormecer. Não tiveram direito a tornarem-se palpáveis, delineáveis sem ser no ar circundante. A estes sonhosfetais, tão minúsculos, foi-lhes apertado o colarumbilical abraçando mortalmente o nascimento etéreo.
Ao mural aconchego as costas frias e os (a)braços sonhados.



My steps, within
Three feet, elsewhere
They say, don't dare
Don't leave that square
My will, their will
Can move, stand still
My part, no heart
I must fulfil

Like a rising monster
All veiled in grey
See the walls of dawn
They warn you of the day

Come back my dream
Into my arms into my arms
Come back my dream
Into my arms into my arms

Their will, my will
Just act, don't feel
Their kind, my kind
Brought me to heel
Accused of something
Nothing, all alone
I had to bang the nails
Into my head, the guilty one

Like a rising monster
All veiled in grey
See the walls of dawn
They warn you of the day

Come back my dream
Into my arms into my arms
Come back my dream
Into my arms into my arms

"Into My Arms" - Deine Lakaien

sexta-feira, março 24, 2006

Não me lembro de ter erguido as mãos em pedido...

Há que saber chegar à areia alguns momentos antes que a maré mude. Apreciar momentos únicos em prol de comandantes de navios que teimam em não naufragar, abrir os olhos para uma última visão brutalmente inebriante. Acreditar que o pó está num lugar que é seu por direito. Há que saber ler as palavras sem se dissecar o que não se conhece. Saber que cada instante se encaixa no quadro que pintamos consoante nos movemos. É necessário ter consciência de que há mudanças que se fazem fora do nosso olhar. Que o ontem fica no ontem, não translada para o hoje. Por tudo isto e muito mais, não trocaria a minha vida por qualquer outra que me oferecessem. Não agora! Não aqui! Não... nunca!!!

Porque quem escreve assim entranha-se na alma

Entras-me pela respiração
(para me infectar de mente)
e deixas-me esgotado,
tão completamente
que passo as noites acordado
a vislumbrar uma miragem:
ao fundo, adormecido,
o mar luminoso.

No ecrã conto a história
moderna com(o) a minha morte.

Começo pela primeira página
(www.pacienteem.coma)
mas acabo em livros diferentes.

Quando chega a minha vez de escrever
escolho a tinta mais escura e doente,
faço-me peregrino sem perder tempo
na ãnsia de invadir o templo.

Quero destruir qualquer coisa sagrada!

Entro frenético, luto com os mortos,
mas ajo sempre em conformidade
- que também a dor é conforme a idade.

"Para escrever na última página
há que destruir ambos os pulmões
e deitar fora as ilusões;
há que saber despertar sem ter dormido
e estar sem ficar."

O jogo acaba.

Vejo chegar o dia,
na escuridão
pelo lado esquerdo da alma.
Desligo o ecrã,
esqueço tudo o que li.

Amanhã, uma outra noite,
tentarei de novo encontrar
o raio que parta
o fim deste círculo
-sempre imperfeito.

"A Morte (em ecrã moderno)" por João Nery

terça-feira, março 21, 2006

Decisão de café


Fotos por Eye of Horus
P.S. I'll always have Barcelona...

segunda-feira, março 20, 2006

Os apóstolos desceram à terra para beber uns copos

Houve uma noite em que saí à rua carregada de esperanças. Seria a minha primeira noite num mundo diferente do meu, em que iria descobrir que os corpos escorregam pela calçada tão facilmente como o entornar de um copo. Em que voltaria ao casulo com o olhar demasiado triste, como é habitual, e com as mãos trémulas no vazio.
Lembro-me de estar no Tocsin, de me sentir galvanizada com a música, de deambular pelas paredes, até que senti uns olhos pequeninos e intrigados que me vigiavam. Virei-me e olhei também. Gosto de uma batalha de olhares até ao momento em que alguém tem que ceder e consecutivamente, uma das cabeças acaba por se baixar. Mas neste caso não.
O dono dos olhos minúsculos fitou-me intensamente. Acabei por me sentar num daqueles bancos da sala ao lado da pista, para mais descansadamente deixar os meus pensamentos varrerem ruas na procura de um outro olhar. O "olhar de mar".
O ser, pequeno como os seus olhos, sentou-se ao meu lado. Continuei em silêncio enquanto o examinava de soslaio. Pele sepulcralmente branca, cabelo curto claro, bigode queirosiano. Fumava um cigarro, como se fosse o primeiro de toda a sua existência e olhava-me como se vasculhasse cada recanto obscuro dos meus segredos.
"Sou Pedro. Por que carregas um peso tão grande?"
Silêncio
"A tua aura é negra, sabes isso não sabes?!"
Afirmei que já o sabia.
"Devias permitir-te ser humana, seria mais fácil para ti e para os que te rodeiam."
Estou farta! Passei demasiado tempo em discussões que não devia ter tido, a dizer que não quando queria dizer sim, travei batalhas que não eram minhas. Criei uma imagem de força, quando sei que estou prestes a desabar. Estou cansada que me olhem como um exemplo a seguir... cansada até à morte.
"Impões tarefas demasiado árduas a ti própria. Só precisas de ser salva de um ser."
Esboçei um sorriso.
De quem é que preciso de ser salva?
"De ti!"
Escondi a cara com o cabelo, enquanto acendia um cigarro. Tinha cerca de cinco segundos para recuperar o fôlego. Ele levantou-se e saiu. Deixei-me ficar sentada, a música estava alta, acho que era a "Into my arms" dos Deine Lakaien. Não tenho a certeza, porque não consegui fazer a distinção entre a canção e o latejar do meu cérebro.
"Só mais uma coisa."
Ele estava novamente na minha frente, agora mais pálido e eu mais assustada.
"Ele tem medo de ti, sabes?"
Limpei uma lágrima e fui dançar.

Numa das noites habituais em Coimbra, em que se faz o roteiro da "praxe", exactamente duas semanas após a minha ida ao Tocsin. Café no sítio do costume, a bebida do costume, conversas acima de qualquer interesse banal, saída para a rua à hora do costume e a caminhada habitual até ao NL. Sim! Acho que sou um animal de hábitos, consoante a disposição que envergo. Resuma-se da seguinte forma: o hábito faz o monstro e não o monge.
Noite com demasiada bebida, danças frenéticas quando a música o permitia, deambulações de rosto em rosto, conversas em tom elevado para fazer chegar aos ouvidos as parcas palavras que a vida, demasiado conflituosa, permite. Evita-se o toque que não se deseja e assim se chega ao ponto da noite em que é necessário aquietar. De novo o cérebro ebule em imagens, em questões sem resposta.
Ao meu lado um vulto negro, quieto, impávido. Parece querer vir falar comigo. Não ligo.
Naquele momento estava em mil locais diferentes, todos demonstráveis por um único nome, mas não estava ali, no meio daquelas pessoas.
"Tu não és deste mundo pois não?"
Sorri para mim enquanto pensava que a minha vida se estava a tornar mais anormal (ainda) do que o normal.
"O meu nome é Paulo. Quando entraste, perguntei-me se te aperceberias que todas as pessoas te olharam, é impossível não ver a tua aura!"
Encarei-o. Um homem alto, forte, cabelo negro e olhos metálicos. Nada igual ao outro ser que me tinha abordado, duas semanas antes.
Já agora, o que é que tem a minha aura?
"A tua aura sente-se, é negra! Mas tu sabes isso!!"
Já me disseram. Deve ser por isso...
"Por isso o quê? É por isso que insistes em carregar um fardo que não é teu?"
Não! Acho que é por isso que tudo acaba à minha volta. Sinto-me uma verdadeira rainha de desertos.
"Devias baixar um pouco as expectativas."
Que tenho para com os outros?
"Não! As que tens perante ti."
Sorri, pensei que estava a ter o chamado "deja vu".
"Antes de me ir embora e acredita que nunca mais me irás ver, quero dizer-te algo."
Diz! Eu ouço-te.
"Esse homem tem medo de ti."
Qual homem?
"Esse! Aquele que não esqueces. Ele tem medo de ti, porque sabe que tu és a vida dele..."
Encostei-me à parede e escorreguei até ao chão.

quinta-feira, março 16, 2006

Was it a dark night my child?

O fim da manhã é dos corpos inundados na decadência ébria, dos torsos abraçados na ignorância dos nomes, dos resquícios de felicidade ao dançar um tema favorito, dos cigarros que se pedem já sem força para serem usufruídos.
O início da noite que não caiu, a pausa para aqueles que fazem o horário do cansaço, é de conversas incautas com estranhos, é de revelações em casas-de-banho, é de palavras cuspidas promiscuamente para um qualquer corpo que se deseje, é de sorrisos melancólicos. A aurora triste, em que os passáros fazem um chilrear insuportável, em que o oxigénio é demais porque os teus pulmões apenas se alimentam de inalações de alcatrão e morfina, em que o alcóol é a única coisa que ainda percorre caminhos no corpo, a aurora, triste, não te esqueças de que é triste. A aurora é o fim da noite em que depositas esperanças, como rosas, aos pés de um qualquer aprendiz demoníaco.
A manhã é dos olhares sós.
É aquele minuto em que bonecas-de-lágrimas-de-porcelana se sentam em degraus imundos feitos de estilhaços cortantes, é o instante em que as princesas-pedantes perdem a tiara de sonhos esventrados numa cama diferente da imaginada, os jogos perdem-se nas técnicas do iniciante, os vestidos de ninfa rasgam-se por baixo dos pés descalços que pisam as linhas de cocaína do poder momentâneo.
A manhã é das lágrimas que sujam o semblante.
A manhã é da Serpente que afaga a alma, de uma perdida, com as suas escamas. A Serpente que sibila o silêncio da compreensão, mais valioso que ouro, acompanhante tumular de faraós.
O fim da manhã arrasta consigo uma noite de indirectas musicais, em que se enviam recados através de vozes poderosas, de gargantas com caras e nomes extasiantes pela importância nas vidas. No entanto, a noite rasga-se em frases dissimuladas na bebida que não apetece, mas que se ingere em jeito de mézinha, desfaz-se em antipatias de engate barato em que o preço a pagar é equivalente a um décimo da alma.
A noite termina-se em frases primárias, que de literário nada têm, frases brutais ecoantes no calor suado... "I wanna fuck you like an animal".
Esqueci-me das minhas botas Ripsaw.
"As Dark Nights não seriam as mesmas sem ti...". O que é que isso importa?
A minha noite acaba-se com a mão no espelho, evitando o reflexo do meu olhar.

terça-feira, março 14, 2006

Hoje é noite de lua cheia. Encontramo-nos por aí... num sítio escolhido ao acaso. Que tal em todas as outras vidas?

segunda-feira, março 13, 2006

Avassalador

Wake me up....

We're here

(Shekinah)

Then I saw a new heaven

Light

We evolve in my time

For the first heaven
and the first earth had passed away
...the first moment you were born

Then I saw a new heaven

Here
We are fallen
Like the mourning sun
We are waking up
Here
We are fallen
Like the mourning sun
We’ve just begun

This old world will pass away
This is the dawn of our new day
We didn’t fall from Heaven We didn’t fall for you
Rise!
Here
We are fallen
Like the mourning sun
We're waking up
Here
We are fallen
Like the mourning sun
The mourning sun

Like the mourning sun
Like the mourning sun
I’m alive
Like the mourning sun
Like the mourning sun
I’m alive

Don't you see, I'm never away?
I'll be watching over you love
Don't you know ??????

Wake up
Melt
Melt!

Wake up
We are fallen
Like the mourning sun
We are here
We are fallen
Like the mourning sun

(rise, rise, rise)


We’ve fallen like rain
I’ve been waiting for the day
And the light has made
Where we'll rise again
And our wings will unfold
And be painted like gold
And I’ve saved my soul
I’m alive again
Wake up
(mourning sun)
I will rise again
We are here...
(like the mourning sun)
(like the mourning sun)
We will rise again.
We are here...
(like the mourning sun)
(like the mourning sun)
(like the mourning sun)

Then I saw a new heaven and a new earth
The first heaven and the first earth had passed away.

"Mourning Sun" - Fields Of The Nephilim

As palavras não bastam para espelhar a miscelânea de sensações que é a música dos Fields, talvez o retrato mais fiel seja a "certeza" que as paredes do teu quarto vão soterrar-te, mas simplesmente não te importarás... McCoy my master!!

P.S. VozdaSerpente aka MoonspellBaby: I have seen the light!!!!

domingo, março 12, 2006

Encontra-se o sentido na falta dele

Pergunta apagada. Tens medo de.
Cuidado com o que se deseja.
Palavra não dita.
Som exausto. Recebe em troca. Três vezes seguidas.
Mentira enrolada no vento que não toca terra. Mãe de alguém orfão.
Ar falta dele.
Pés sem planta. Rasteja assim. Menos no mais de mim.
Celofane de pó. Não arroz.
Luz funde o ofusco. Escuridão no meio sai fora.
Com sentido desfigurado . É para ali. Não é para aqui.
Vou embora. Sem correr. Esvaio-me aqui.
Pelos dedos escorre. Hotel.
Alguém vê a lógica. Eu não encontro. Mas gosto não estava habituada.
O hábito faz o monstro e eu procuro o monge.
Tibete. Não são sete anos. São mais os dias que o tempo pode contar.
Pastilha moída de uma boca para a outra. Cabeça no forno. Sem arder.
Inodoro intoxicante. Dos olhos às narinas.
Amor de recreio. Paixão de rio lodo.
Eu dou-te a resposta. Lido. Observado.

quarta-feira, março 08, 2006

Valsa da noite

Esta noite vou expulsar demónios, pontapea-los até à exaustão, não muito, o suficiente para que se mantenham afastados por uma noite.
Vou verter o corpo pelas pedras da calçada da rua que sobe até à casa dos isolados, vou esquecer que o coração está apertado e bate cada vez mais devagar, abrirei os braços ao céu negro na espera de línguas flamejantes que descerão num rodopio avassalador. Vou rodar com elas à volta da fogueira onde arde quem deixei para trás sem um único olhar de despedida.
Camuflarei o meu odor em puro veneno.
Envergarei mil tules de sangue criando uma barreira à minha volta, o círculo da protecção onde nenhuma alma viva conseguirá penetrar, prefiro manter-me só. Sozinha. Eu e o entendimento com os que não caminham visíveis.
Irromperei no salão tal qual debutante nefasta distribuíndo sibilações pelos presentes, vou rastejar até Satã, implorar-lhe o meu requiem predilecto. Tentarei seduzi-lo com as mandíbulas rasgadas numa promessa suja. Nesta noite que não vivo, roubarei beijos a inúmeras bocas, entregarei o corpo num qualquer canto fétido e talvez assim esqueça.
Escrito ao som de "The Castaway" by Amorphis e "Framed in Blood" by The 69 Eyes
Abraça-me o ar em jeito de presença maldita... Dá-me túlipas negras ou secas! Não interessa!! Dá-mas apenas.
Isto é por mim.

domingo, março 05, 2006

A Bela gerou o Monstro

Meu esperado anjo-pequeno ou anjo-de-pecado, oferecem-se aos meus olhos as mentiras respiradas aos ouvidos alheios. Porventura te julgavas escondido na ignorância do meu sentir, distraíste-te na doçura da ilusão de que me conheces como a àgua que bebes, mas nem tu sabes os meus segredos, aqueles... os mais nefastos à tua carne incólume.
Vou castigar-te meu querido!
Vou montar uma peça da qual te deixarei participar sem saberes o papel que te está destinado. Treme! Treme de medo ou de embaraço luxurioso! Mas fica aqui, sentado calmamente enquanto desapareço, envolta num manto de incógnitas, para o quarto ao lado. Encosto as palmas e o ouvido à porta, do outro lado o teu respirar receoso do que o teu olhar não pode anteceder, mas que a mente adivinha e o corpo implora de modo envergonhado.
Sorrio e preparo-me como uma não-virgem para um ritual lunar.
Faço-te ouvir o meu sentar nú no banco de cabedal negro que se encontra em frente ao toucador. No espelho oval reflecte-se o meu peito lavado por mil lágrimas de espera, nele verto o mel com que te irei adoçar a boca sedenta de mim e em seguida traço carvão sobre o limiar dos olhos até entrar na oblíqua da pele. O teu coração pulsa de tal forma que parece querer irromper pelo quarto a qualquer momento.
Acalma-te. Já falta pouco para que te vá imprimir a dor que estás habituado a inflingir-me. Só mais um pouco... escuta.
Escuta deste lado da porta o correr do fecho nas botas que me torneiam as pernas, o gatinhar dos saltos sobre o chão, o clique metálico ao prender as meias de seda negra, frias, agora quentes de mim para ti. Miro-me uma outra vez, será bom acariciar os lábios com carmim, quero-os suculentos. Ouve como se sentisses nos ossos, o rasgar da escova que me alinha rigidamente o cabelo para que se torne num imponente rabo de cavalo. Agora sim, consegui a dominadora perfeição e tu, desse lado, ardes como um archote humano que não se extingue.
Sento-me uma última vez, negramente acetinada, em frente ao espelho. A jugular está proeminente e noto o coração queimado, visível sob a pele transparente.
É tempo para uma última bebida, a última.
Do outro lado tu não te extingues, ardes no que eu um dia (como hoje) me consumi.
Espera... pois eu não irei.

sexta-feira, março 03, 2006

Faz de mim uma crente

Queria escrever-te o corpo em palavras que nunca foram pronunciadas, mostrar-te a alma que se deleita na solidão do meu apagar de luz. Não é o meu corpo que te quero ofertar, mas sim as palavras de que ele é feito, os silêncios que se escondem no recôndito das curvas lapidadas pelo tocar agreste da tua mão sobre a roupa. O corpo abandonado ao céu queimado no olhar.
Julgarás, talvez, que sofro por te não ter, mas não! Agora já não! Simplesmente não sinto.
Dou por mim a passar a mão no meu reflexo, uma vã tentativa de me olhar para além do pedestal, de me localizar num espaço gélido que não me apraz. O tempo continua a passar, impávido, sereno, derretido no vento que me devolve o teu chamado. Tu insistes e não vens.
Concluo que acabei por me desvanecer na espera, afinal sou tão meramente assim, mortal. Mas eu continuo aqui como um dia te prometi... embora TU não tenhas ouvido.
Continuo a querer acreditar para além do que pode ser visto.
Baby, I've been waiting,
I've been waiting night and day.
I didn't see the time,
I waited half my life away.
There were lots of invitations
and I know you sent me some,
but I was waiting
for the miracle, for the miracle to come.
I know you really loved me
but, you see, my hands were tied.
I know it must have hurt you,
it must have hurt your pride
to have to stand beneath my window
with your bugle and your drum,
and me I'm up there waiting
for the miracle, for the miracle to come.
Ah I don't believe you'd like it,
You wouldn't like it here.
There ain't no entertainment
and the judgements are severe.
The Maestro says it's Mozart
but it sounds like bubble gum
when you're waiting
for the miracle, for the miracle to come.
Waiting for the miracle
There's nothing left to do.
I haven't been this happy
since the end of World War II.
Nothing left to do
when you know that you've been taken.
Nothing left to do
when you're begging for a crumb
Nothing left to do
when you've got to go on waiting
waiting for the miracle to come.
I dreamed about you, baby.
It was just the other night.
Most of you was naked
Ah but some of you was light.
The sands of time were falling
from your fingers and your thumb,
and you were waiting
for the miracle, for the miracle to come
Ah baby, let's get married,
we've been alone too long.
Let's be alone together.
Let's see if we're that strong.
Yeah let's do something crazy,
something absolutely wrong
while we're waiting
for the miracle, for the miracle to come.
Nothing left to do ...
When you've fallen on the highway
and you're lying in the rain,
and they ask you how you're doing
of course you'll say you can't complain
If you're squeezed for information,
that's when you've got to play it dumb:
You just say you're out there waiting
for the miracle, for the miracle to come.
"Waiting for the miracle" - Leonard Cohen

quarta-feira, março 01, 2006

Procura-me