segunda-feira, abril 16, 2007

In death a prayer

"(...) You would never sleep at night
If you knew what I've been through
And this thought is all I have
To trust upon when light is gone (...)"


For My Demons - Katatonia

Foto por Ana Madeira

"Our lady of silent scream

our lady of sad belief

our lady of twisted mornings of not-wanting-to-know

our lady of eternal waitings

our lady of seeing all

my lady of nightmares

my lord of sunshines

my autonomous thinking of loneliness and bliss

of dancing underwater

of being a machine

of waking up again and again with monsters

of loving beautiful beasts.

our lady of sins unspoken

of confessions untrue

of unexplainable wishes

I am true I am real

I am here?"


Our lady of agony (festas em homenagem)
por Colher de Chá

quarta-feira, abril 04, 2007

Do amor incondicional, da saudade e da dor

Da imensa saudade
Da insustentável dor
Desta maldita dor


A noite passada sonhei contigo.
Num emaranhado de sonhos estranhos, sonhei contigo. Com aquele momento em que caíste à minha frente. Vivi tudo isso novamente, o meu voltar de cabeça, o meu grito de NÃO ao ver-te escorregar escadas abaixo, o momento em que cheguei ao pé do teu corpo caído no chão e mergulhei os dedos nos teus caracóis tingidos de vermelho. A poça de sangue que alastrava sobre o mármore. As minhas mãos ensopadas em vermelho. O teu olhar aflito à procura dos meus olhos. A tua voz trémula a dizer-me "Eu estou bem minha querida" e da minha boca uma única palavra, avó avó avó avó.
O mundo a engolir-me no receio de te perder ali, naqueles segundos. Mas nessa noite tu voltaste para mim, abraçaste-me enquanto eu chorava e pedia-te que nunca me deixasses. Embalaste-me bem encostada a ti e prometeste-me que nunca, por nada deste mundo, me deixarias.
Eu sei que estavas a mentir, há coisas que são inevitáveis, assim como tu sabias que a mentira que me contavas apenas adiava a certeza do pior dia da minha vida.
Hoje acordei quase sem respirar como na tarde em que te fui ver... pela última vez. Mas eu não sabia que era a última, a derradeira.
Fiz questão de não me vestir totalmente de preto, sabia que tu não gostavas mas chegou ao ponto em que desististe de me dizer fosse o que fosse sobre esse assunto. Entrávamos sempre na mesma ladaínha:
"Sempre de preto! Sempre de preto porquê querida?!"
Ó avó já sabes que eu sou assim!
"No dia em que eu morrer de que côr é que te vais vestir?"
Visto vermelho avó, nesse dia visto vermelho hehehe
Ríamos, tu abanavas a cabeça e eu pendurava-me no teu pescoço enquanto te sufocava com beijos.
Nesse domingo, o último em que me sorriste, vesti umas calças de ganga, uma t-shirt roxa, escovei muito bem o cabelo, como tu costumavas fazer, e fui ver-te. A mamã disse-me para entrar primeiro para matarmos as saudades, só nós. Eu tinha acabado de chegar de um trabalho que me havia obrigado a ficar imenso tempo fora e vinha morta de saudades do teu cheiro, dos teus mimos. Ela indicou-me qual o quarto em que estavas. O meu coração a bombar o sangue a uma velocidade incrível, mas conforme eu me aproximava os passos ficaram mais lentos e a respiração mais pesada. Entretanto tinha a porta do teu quarto, aberta, à minha frente e o teu corpo deitado numa cama estreita, a cabeça voltada para a janela, não me ouviste chegar e eu... eu recuei dois passos e não consegui entrar.
Chorava copiosamente e não queria que me visses assim. Fiquei encostada à parede, do lado de fora, o tempo suficiente para conseguir acalmar a respiração e estancar as lágrimas.
Voltei a entrar. Foi então que tu te voltaste, tentaste erguer os braços para mim mas não conseguiste e então sorriste-me.
Minha querida... eu mal te conseguia ver através da cortina de lágrimas que jorrava ininterruptamente dos meus olhos e que deitava por terra o falso sorriso que eu te mostrava. A mamã entrou logo de seguida, começou a falar contigo e estrategicamente, colocou-se entre nós. Eu não consegui sequer dizer uma única palavra até ao momento em que me despedi de ti, sem saber que era mesmo a despedida. Sabes, eu acreditava que tudo ia passar, que ias melhorar e voltavas para casa.
Disseste-me que não me querias ver a chorar, que não havia motivo para isso. Eu disse-te que chorava porque me ardiam os olhos, que estava muito cansada das filmagens. Deste-me um beijo, sussurraste-me ao ouvido "Minha querida, não chores. Está tudo bem.", sorriste e fechaste os olhos. "Agora preciso de descansar", disseste e eu vim-me embora depois de me certificar que estavas apenas a dormir e pedir, insistentemente, às enfermeiras que te velassem o leito.
Sabes minha querida, chegou a altura de confessar o meu egoísmo. Não queria que te fosses porque sabia que o peso da tua falta seria mais do que o que posso suportar, porque o teu amor era a única coisa certa que eu tinha na vida, porque me sabia bem o calor do teu xaile, porque me dói a tua ausência, porque tu eras a única que amparava as minhas quedas e fazia com que esta solidão fosse mais pequena, porque esta dor corta cada vez mais fundo e mais e mais e mais.
Há uns tempos atrás, a mamã encontrou-me sentada nas escadas a olhar para aquela fotografia da pantera côr-de-rosa, que era bem maior do que eu, mas que arrastei comigo para ficar ao nosso lado aquando da foto. A mamã perguntou-me há quanto tempo eu não te ia ver, há quanto tempo não te levava rosas brancas, as tuas rosas brancas. Disse-lhe que não era preciso, porque desde aquele Novembro que tinhas as rosas contigo.
"Tens que a deixar ir."
Tenho que te deixar ir...
Não vou ver-te minha querida, porque simplesmente não consigo olhar para algo tão absurdo como a tua sepultura, a abominável prova de que não voltas, não voltas... e porque é que não voltas?
Porque é que tiveste que ir? Porque é que teve que ser assim? Não me interessam explicações lógicas, porque na tua morte, na dor que ficou eu não encontro lógica. E teimo em não aceitar, dói hoje, como doeu ontem, como doeu no dia antes de ontem, como doeu naquela manhã, como dói todos os dias e eu não sei mais o que hei-de fazer.
Tenho que te deixar ir... mas eu não consigo.