quinta-feira, maio 08, 2008

(au)Sente



Mas há!
Porque só eu sei o quanto a voz em mim não se cala, a velocidade a que o sangue corre pelas ruas desta cidade, as ruas que foram nossas.
Há um motivo imensamente grande para te falar a meio da noite e dos dias, para te gritar na mudança dos segundos, para contar-te que o meu respirar se confunde com o mexer do teu braço sobre o meu corpo, para dizer o teu nome no frame exacto em que o filme muda de cenário, aquele filme a que nunca chegámos a ver o final...
Há um motivo tão válido para te importunar a meio da noite porque só eu tenho o "bilhete para a tua vida", aquele que me permitia idas e vindas sem descanso na nossa pele unida, temente das horas que cavalgavam sobre o final da tarde numa luta desigual contra o tempo.
"Quero parar o tempo!", o tempo não pára.
Eu disse-te que o tempo não pára...
Escorre-nos entre as mãos e vai-se entre números que perfazem uma imensidão de faces ilustradoras de um abismo.
Eu nunca consegui parar o tempo, ainda agora corro contra ele de peito aberto à espera de um grande final nestas noites demasiado compridas em que tudo o que resta é a imensidão do meu nome pronunciado de um modo tão diferente da canção que saía dos teus lábios.
Mas há um motivo enorme para te importunar a noite em lembranças nesse chão que pisas diariamente, nos silêncios carregados do perfume dos meus cabelos, nas palavras vestidas da pele marmórea dos meus ombros ruborizados pelo passeio dos teus lábios, nas tuas lágrimas sulcadas no meu peito quando mergulhavas em mim como se eu te pudesse escudar de um mundo que odiavas, na recordação da nossa "foto" enlaçados frente ao espelho... o espelho que te devolve dia após dia a tua face a olhar para a tua face. Quem és. O que és.
Sim... eu sei que tu escondes, o motivo enorme que nos faz(ia) importunar a noite.