Was it a dark night my child?
O fim da manhã é dos corpos inundados na decadência ébria, dos torsos abraçados na ignorância dos nomes, dos resquícios de felicidade ao dançar um tema favorito, dos cigarros que se pedem já sem força para serem usufruídos.
O início da noite que não caiu, a pausa para aqueles que fazem o horário do cansaço, é de conversas incautas com estranhos, é de revelações em casas-de-banho, é de palavras cuspidas promiscuamente para um qualquer corpo que se deseje, é de sorrisos melancólicos. A aurora triste, em que os passáros fazem um chilrear insuportável, em que o oxigénio é demais porque os teus pulmões apenas se alimentam de inalações de alcatrão e morfina, em que o alcóol é a única coisa que ainda percorre caminhos no corpo, a aurora, triste, não te esqueças de que é triste. A aurora é o fim da noite em que depositas esperanças, como rosas, aos pés de um qualquer aprendiz demoníaco.
A manhã é dos olhares sós.
É aquele minuto em que bonecas-de-lágrimas-de-porcelana se sentam em degraus imundos feitos de estilhaços cortantes, é o instante em que as princesas-pedantes perdem a tiara de sonhos esventrados numa cama diferente da imaginada, os jogos perdem-se nas técnicas do iniciante, os vestidos de ninfa rasgam-se por baixo dos pés descalços que pisam as linhas de cocaína do poder momentâneo.
A manhã é das lágrimas que sujam o semblante.
A manhã é da Serpente que afaga a alma, de uma perdida, com as suas escamas. A Serpente que sibila o silêncio da compreensão, mais valioso que ouro, acompanhante tumular de faraós.
O fim da manhã arrasta consigo uma noite de indirectas musicais, em que se enviam recados através de vozes poderosas, de gargantas com caras e nomes extasiantes pela importância nas vidas. No entanto, a noite rasga-se em frases dissimuladas na bebida que não apetece, mas que se ingere em jeito de mézinha, desfaz-se em antipatias de engate barato em que o preço a pagar é equivalente a um décimo da alma.
A noite termina-se em frases primárias, que de literário nada têm, frases brutais ecoantes no calor suado... "I wanna fuck you like an animal".
Esqueci-me das minhas botas Ripsaw.
"As Dark Nights não seriam as mesmas sem ti...". O que é que isso importa?
A minha noite acaba-se com a mão no espelho, evitando o reflexo do meu olhar.
7 Comments:
O pensamento, esse mensageiro ambulante que deambula pelas ruas dos sentidos. Noutro dia outra manhã, novos olhares em que se queda uma réstea de centelha do calor que aflora a pele fria e nos arrebata ao romper do novo dia. Gostei deste teu divagar. Um beijo
dark night, slow day...i envy you, for you recognized my life....
as vezes quando te leio ,penso que que vês o pensamento,a alma,escreves tanto de coisas que eu senti algures
Bj
Minha linda o teu texto está realmente fabuloso... Mas a aurora pode ser triste ou pode ser tb a portadora de esperança por isso fica atenta e não a menosprezes!! Quando surge a aurora está a ser-nos dada a oportunidade para vivermos mais um dia e, sejam os dias ou as noites, devemos procurar viver intensamente, só assim a vida vale tb a pena... As lágrimas sujam mas como já te tinha dito tb lavam a alma, acredita! Irás voltar a ganhar o sabor da vida e encara-a de frente; não desistas nunca pois eu tb não vou desistir de ti! Beijos grandes
o teu sofrimento e tao belo e puro pk e verdadeiro akilo k sentes!a tempestade esta ar no se auge mas brevemente as tuas lagrimas secarao!estou aki sempre para ti smos um anel indestrutivel:P
bjs
Mas o reflexo do olhar nem assim se consegue evitar, pois não? As manhãs daquelas só podem, de facto, ser dos olhares sós. Beijo, João Nery
Não, não se consegue João. E tu sabes isso. Obrigado por existires meu amigo e por estares lá, nessas manhãs.
Um beijo infernal
P.S. Já agora obrigado pela ajuda na limpeza do eye liner ;)
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