domingo, março 05, 2006

A Bela gerou o Monstro

Meu esperado anjo-pequeno ou anjo-de-pecado, oferecem-se aos meus olhos as mentiras respiradas aos ouvidos alheios. Porventura te julgavas escondido na ignorância do meu sentir, distraíste-te na doçura da ilusão de que me conheces como a àgua que bebes, mas nem tu sabes os meus segredos, aqueles... os mais nefastos à tua carne incólume.
Vou castigar-te meu querido!
Vou montar uma peça da qual te deixarei participar sem saberes o papel que te está destinado. Treme! Treme de medo ou de embaraço luxurioso! Mas fica aqui, sentado calmamente enquanto desapareço, envolta num manto de incógnitas, para o quarto ao lado. Encosto as palmas e o ouvido à porta, do outro lado o teu respirar receoso do que o teu olhar não pode anteceder, mas que a mente adivinha e o corpo implora de modo envergonhado.
Sorrio e preparo-me como uma não-virgem para um ritual lunar.
Faço-te ouvir o meu sentar nú no banco de cabedal negro que se encontra em frente ao toucador. No espelho oval reflecte-se o meu peito lavado por mil lágrimas de espera, nele verto o mel com que te irei adoçar a boca sedenta de mim e em seguida traço carvão sobre o limiar dos olhos até entrar na oblíqua da pele. O teu coração pulsa de tal forma que parece querer irromper pelo quarto a qualquer momento.
Acalma-te. Já falta pouco para que te vá imprimir a dor que estás habituado a inflingir-me. Só mais um pouco... escuta.
Escuta deste lado da porta o correr do fecho nas botas que me torneiam as pernas, o gatinhar dos saltos sobre o chão, o clique metálico ao prender as meias de seda negra, frias, agora quentes de mim para ti. Miro-me uma outra vez, será bom acariciar os lábios com carmim, quero-os suculentos. Ouve como se sentisses nos ossos, o rasgar da escova que me alinha rigidamente o cabelo para que se torne num imponente rabo de cavalo. Agora sim, consegui a dominadora perfeição e tu, desse lado, ardes como um archote humano que não se extingue.
Sento-me uma última vez, negramente acetinada, em frente ao espelho. A jugular está proeminente e noto o coração queimado, visível sob a pele transparente.
É tempo para uma última bebida, a última.
Do outro lado tu não te extingues, ardes no que eu um dia (como hoje) me consumi.
Espera... pois eu não irei.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Palabras buriladas com mestria...magnifico texto!! Beijinhos :)

6/3/06 13:31  
Blogger Alexandre o Grande said...

Ahhhhhhhhh Bela!!!!!!

6/3/06 17:56  
Blogger Vampiria said...

xi, que te hei de dizer, Eye?... que tudo são cinzas? tou arta desta merda toda, farta...ceguei, ja nao consigo olhar em volta... para quê? vês alguém? parabéns eu nao.***

7/3/06 06:46  
Blogger Legionaria said...

nao me sinto com forças, nem para te falar atraves de um mail...xi...:(( beijos

7/3/06 09:04  
Blogger Winterdarkness said...

Adorei este teu texto e linda: ele acabará sempre por vir ter ctg enquanto o tiveres no teu coração e mente mas não deves deixar de ter esperança e estarei sempre presente para te apoiar quando o teu caminho parece desabar como me está a acontecer a mim!

8/3/06 08:04  

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