domingo, fevereiro 26, 2006

Pesadelo de sábado à noite, domingo de manhã

A escada é amarela não contrastando muito com as paredes brancas, as pessoas, demasiadas, passeando-se em encontrões com as restantes que riem alto no meio do rebuliço festivo, nada de anormal. É apenas uma noite como outra qualquer naquela casa que conheces, mas na qual nunca estiveste. Movimentas-te como os teus iguais (não), de copo na mão e cigarro na outra, no entanto não sorris ebriamente, mas sim em jeito desconfortável.
Nenhum dos outros está interessado na banda que toca a não seres tu, que páras porque conheces o som tão bem como o bater desenfreado do teu coração. Cada vez mais alto, mais forte, ensurdecedor. O coração já bate nos ouvidos e não no peito. A música cala-se pouco tempo após ter começado e tu já não o vês.
Aguarda. Sabes onde ele está.
A porta abre-se e o teu sorriso estampa-se nervoso, mas não vergas.
Elas saiem todas. Dão um retoque às roupas e cabelos desalinhados, mostrando-te os sinais de um encontro prostituído nos segundos da carne pura. Da carne que te pertence por noites passadas em claro, por momentos de pura contemplação, pela sinceridade de quem não exige para além do humano, pelo amor não declarado.
A incursão luxuriosa avança na tua direcção.
Uma delas ainda mostra os seios deliciada com o toque de que foi vítima, ouve-la enaltecer o tacto dele, ouve-la proferir o seu nome, o seu nome, o nome teu e dele, aquele só vosso.
Da boca dela sai o vosso nome de alcova.
É aqui que contas o milhar em frames.
Encontras o teu melhor sorriso, enquanto despreocupadamente lhe perguntas se foi ele que a tocou e bates palmas ante a confirmação.
Os olhos inchados abrem-se em ardor.
Agora o teu corpo espasma na cama alagada da transpiração do medo.
Não sabes onde estás, estas paredes não são as da tua redoma.
Isso!
Já encontraste o caminho para o chão da casa-de-banho.
Tenho pena de ti enquanto, fora do teu corpo, te vejo mergulhar a cabeça na sanita porque sentes o sabor a bílis deitar-se na tua língua. O vómito quente irrompe por entre lágrimas e tremores e o teu corpo lança-se para trás. Miúda... é tão triste o teu rastejar para a frente do espelho, o teu lavar frio da cara, a tua tentativa tremida de alinhares o cabelo baço.
Vá! Deita-te e dorme.
Pára de tremer!
Não vês que tudo não passou de um pesadelo demasiado real?
Mas foi só isso... um sonho mau.

6 Comments:

Blogger A said...

Tudo o que é genuíno sai muito melhor e tu sabe-lo ;) esta descrição lembra-me noites demasiado longas e demenosiado conscientes. Estivémos lá, não foi? Olha, ontem à noite voltaram a meter-me algo na bebida...
Beijo enorme

26/2/06 11:21  
Blogger Leprikom said...

Que utopia sombria essa a de acordar.

26/2/06 13:30  
Blogger Misantrofiado said...

O abandono de nós próprios é assim mesmo por vezes! Amargo, ácido e viscoso...
Hoje, desafio esses demónios - vá seus filhos da puta, tentem... estou aqui à vossa espera (a rir-me que nem um desalmado). Venham seus cabrões de merda, covardes sombrios...

27/2/06 04:42  
Blogger Winterdarkness said...

Mana foi só um sonho mau; sabes que estou sempre aqui para te apoiar mesmo estando longe... Tudo passa até os tempos mais negros! Como dizia o Eric Draven: "It can't rain all the time". Kisses e um abraço forte!

27/2/06 05:32  
Blogger Light said...

recordo algumas noites assim...decadentes para mim,mas poucas.
Que o teu acrdar se torne mais soft...
beijos

27/2/06 08:05  
Blogger Sorrow_Leviathan said...

e claro k foi so um sonho!e se nao o fosse podes tar descansada k eu aprendi kickboxing e dava cabo delas todas:P
"ring of fire" spreading its disease

1/3/06 08:33  

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