quinta-feira, novembro 23, 2006

After dark(ness)

Foi na noite... É sempre na noite e lá fora chove...


Encolho o corpo o mais que posso para resistir ao meu mundo, que insiste em esbofetear-me mal o sol se põe. Consigo ouvi-lo ferver quando se afunda no mar sabias?! Naquele exacto momento em que o céu abre as portas à escuridão e o azul se desvanece, eu estou sempre lá, mesmo que ausente. Recolho esses segundos, com as mãos em concha, para soltar as memórias, deixá-las rodopiar à volta do corpo enquanto a carne se descola dos ossos, enquanto os joelhos se vergam, enquanto a cabeça se prosta bem colada ao peito e com a boca consigo engolir o coração. Em seguida aninho-me no chão, nunca é tão frio como o vento que me desenha a silhueta.
Lá atrás, nas minhas costas, jaz o sol, desfiam-se as palavras que escrevi na areia, aquelas que acreditei que permaneceriam faraonicamente. Sabes... mesmo quando o mar as engoliu em espuma, continuei a vê-las sulcadas na minha mão direita, a que ainda se ergue para me escudar o olhar.
À minha frente, quando as luzes se apagam, consigo ver recortes do mundo meu, branco, sem côr, gelado mas não tão frio como o que se faz sentir dentro de mim.
Ao fundo, no horizonte que me desce sobre os ombros, está a música que não se devia fazer ouvir, que me golpeia a pele, que me esventra toda e qualquer réstia de crença.
Se não te moveres, fechares os olhos e te esqueceres de ti consegues ouvi-la... Eu escuto-a na espera da chegada da manhã, mas fora do meu mundo a chuva continua a cair, enquanto na minha cama a dor me sussurra canções de embalar.

3 Comments:

Blogger Lilis said...

Segui o rasto da A e maravilhei-me com o teu BLOG!!! ;)
Excelentes vícios...
Osculum magno ;)

24/11/06 06:37  
Blogger A said...

Lindo lindo lindo lindo...
Bem que reconheço o tom feérico e dorido nas tuas palavras mas sou eu que te digo, minha Linda Amiga de mais de uma década, que todas as palavras que de ti saem serão as mais belas as que estão por vir, pois se a Dor te motiva a isto, imagina o que não fará então o Amor...

Mil Cavalos, minha querida...

A Dor é motivadora, propulsora, inspiradora, até, mas porque ainda ontem falávamos de Amor e de encontros e de Dor e do pouco valor que tantas e tantas vezes nos damos, e do que podemos ser e onde podemos chegar, posso garantir que tudo que nos traz luz traz também Força, Inspiração... sem nunca esquecer que a Dor existe.

Tu és Linda... nunca te esqueças disso.

Adoro-te.

Mil beijos,

Ana

24/11/06 07:58  
Blogger Klatuu o embuçado said...

Dentro da noite crescemos... e, por vezes, temos até a coragem de abrir os olhos dentro do escuro!

Dark kiss.

27/11/06 19:51  

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