sexta-feira, setembro 07, 2007

Inato

Há um imenso buraco negro no que observo sem contemplar, em tudo aquilo que me dói e não sinto. É um acto de contrição que se engole porque os joelhos não vergam no sentir. Há uma falta de vida nesta paixão que me prende ao que me compõe e me impede de verbalizar as falhas humanas. As minhas. As dos outros. As minhas.
Há um escrever, mental, constante, que definha antes do primeiro respirar, que se padece na entrega do que menos me pertence numa reserva infrutífera do que de mais puro tenho e que não consigo encontrar.
Há sem H de existir, como um invocar que não se profere, como um sonho que a insónia sufoca, um desvanecer imaginado.
Há esta presença, etérea, inexistente, constante, criada nas minhas mãos à luz da memória retalhada por palavras que nunca me pertenceram.
Sempre soube que este mundo não era meu.



A ouvir: Angels Of Light - My Suicide

2 Comments:

Blogger Lord of Erewhon said...

Junta-te à multidão de espectros, danados e malditos...

Dark kiss.
P. S. É talvez o melhor texto que aqui publicaste.

8/9/07 15:56  
Anonymous Anónimo said...

Este mundo jamais te bastará.
Deixo-te um beijo saudoso do teu olhar

13/9/07 00:11  

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