5h e 3 minutos.
Segundo após segundo.
Cinco horas e três minutos.
Segundo após segundo.
Cinco horas e quatro minutos.
Os cigarros amontoam-se sobre os centésimos de segundos. É a dormência, a passividade sem cor, uma cratera imensa onde nada se encontra. Um espaço limpo, desprovido de nada.
As paredes não sufocam. Não há paredes.
Não há oxigénio, sobrevive-se com menos do que isso. Há um eu transparente, a teimosia em consumir fragmentos de milhares de personagens ridículamente adoráveis, pequenas marionetas dóceis como cães. Sempre esperei vislumbrar-lhes aquele esgar de dor agonizante, o presságio de que rasgariam a pele parindo a perfeição, mas as marionetas são tão vazias, não se movimentam sem mim. Deitam-se quietas e chamam-me. Ouço-as sussurrar baixo, cada vez mais baixo , que a perfeição nasce da morte.
Quando tudo o resto falha, imobilizo a mente e deixo o corpo ir enquanto espero que não volte... Já não tenho mais linha com que suturar as feridas e as marionetas precisam de dormir.
2 Comments:
O compasso do tempo martela a suavidade do badalar. As marionetas podem ter vida se elas assim criarem Alma
Sabia que eras alguém muito especial ainda antes de falar contigo... Gosto do que sentes, da forma como o sentes e sobretudo como traduzes tudo isso em palavras. Gosto muito mesmo!!!
Não consigo dizer nada em relação a este teu texto. Vêm-me imagens de marionetas inocentes que são uns, de marionetas manipuladoras que são outros, de nós que achamos que nunca fomos ou somos marionetas estando conscientes de que o fomos tantas vezes...
Acho que todos precisamos de dormir um pouco.
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