terça-feira, novembro 27, 2007

In Sehnsucht Veritamus

Não é a tristeza... ainda que escreva de lágrimas nos olhos, mesmo sabendo que a vida pode simplesmente terminar daqui a poucas horas.
É algo que irrompe sem querer furar a pele porque se aninha dentro de mim, porque os meus olhos afundam-se nos teus enquanto o tempo não basta e a eternidade parece saber a tão pouco. Não é a mágoa da distância, é a multiplicação extrema de sentidos, a implosão (in)visível do verbo num plural impessoal.
Mergulho dentro de mim; vejo-me ensurdecedora partícula de silêncio.
É saber que em todas as faces foi sempre a tua que procurei. Que a primeira palavra que surge ao acordar e a última ao deitar... são o teu nome.


quarta-feira, novembro 21, 2007

Para além...

Espelho dentro de um absorto espelho,
quem vês dentro de ti mesmo,
o teu frio, talvez, a tua carência,
ou o convulso mistério que te embebe
para ser parte de ti o que do éden tu desejas?
Serás, por acaso, o meu altivo delírio,
a outra metade perdida e nunca encontrada,
o outro inimigo que me procura?

Obscura tentação do proibido,
a tua indagação explica-me, turva-me até inflamar
a perversa paixão da aparência,
a vã leveza que me nega e te apaga,
a que lança na minha alma a sua promessa de amor
até ficar contigo, alheio e deslumbrado,
para assim me destruíres lentamente.
Mas o que procuras em mim? Serão os meus sonhos
ou as minhas reencarnações futuras?

Afasta de mim a tua exalação tenebrosa,
ou será que formaremos sempre um só ser,
fundidos num corpo de cega luz.
Sei que somos duas forças fustigadas,
a luta fratricida entre Thanatos e Eros,
a impiedade da noite e o desdém da luz,
a claridade que pulsa com a sua agónica sombra.
O horror e o afã de se extinguir na tua vertigem,
sorvendo o teu brilho e o meu soluço,
tornam infindável a miragem.
O tempo divide-nos e reúne-nos.
Na palavra elevada voltamos a olhar-nos,
lenta ressurreição, sonho de pátria e vento,
olhos onde começamos a encontrar
as súbitas presenças da minha face e do teu revés,
enquanto a solidão e o silêncio se afundam
e nos deixam cativos, frente a frente, no nada.

Justo Jorge Padrón, «Thanatos e Eros» (in A Extensão da Morte)

quarta-feira, novembro 14, 2007

Quando é que é suposto largar as mãos dos fantasmas com que valsamos?

sexta-feira, novembro 02, 2007

Jamais te direi adeus!

É hoje outra vez avó e novamente as lágrimas caem descontroladamente e eu sinto-me enlouquecer nesta saudade asfixiante de ti que me consome dia após dia, nos segundos que me engolem as palavras, no coração que diz querer parar mas não pára, nas mãos que pegam nas rosas e cortam os dedos e tingem as rosas de vermelho e as rosas já não são brancas e eu já não tenho dedos para transportar as rosas até ti. Mas eu não quero levar-te as rosas eu quero levar-me a mim e grito por ti e chamo-te e sinto-te e enlouqueço em todas as conversas que temos e não ouço a tua voz, mas sinto o teu cheiro.
E tu estás tão aqui avó, ao meu lado. Se eu parar de escrever agora e me encostar para trás sei que não caio porque te sinto a ponta do xaile quente a roçar o meu pescoço e o teu perfume a sufocar-me. E já não sei onde definhou a minha realidade e começou a insanidade que a tua morte me trouxe à três anos atrás. Terá sido no momento em que a mamã me ligou aos gritos? Foi quando me deitei de novo acreditando que tinha sido um sonho? Quando me sentei ao lado do teu corpo e passei parte da noite de mão dada contigo? Ou terá sido naquele instante em que fiquei petrificada no cemitério depois de todos terem ido embora? Senti-me tão estúpida avó, acreditava piamente que não era verdade.
Minha mãe, minha querida... eterno amor... minha adorada diz-me que eu ouço com muita atenção. Juro que fico quieta aos teus pés, mas por favor explica-me como é que eu posso fazer com que doa menos? Meu amor... perdoa-me mas a minha mão ainda está agarrada à tua.