segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Algemas na gaveta

E não! Não era uma vez. Foram várias as que me perguntei por mim, as que interroguei aos deuses por onde ando, as que procurei as respostas a perguntas que nunca as obterão. Não será aqui o local aprazível da existência sem sentido de um ser único.
Nada foi visto, nada é sentido, nada voltará a ser como era. O "era", era assim tão confortável?
Não lembro.
A lógica, a falta dela, perturbante conforto impossível de lidar. O vazio impera com e sem ti. Mais um teste, menos uma vez a ilimitada exaustão.
O mundo contratado para a lembrança nas ruas, o universo fantasmagoricamente perseguidor de ti em mim.
Sedutor sem o saber ou por vontade de prender eternamente.
O mendigo assobiava a música da cura quando eu passei abraçada à Lua.
Fui para a Desordem.
Dançei até que a carne descolasse dos ossos.
O casaco resvalou dos meus ombros nús ao ouvir um profético «não me esquecerei de ti e não te esquecerás de mim».
Porque não me devolves as chaves do aço recusado no dia em que o tempo avançou?
Sei que sentes que não as quero...

Capítulo 2

"(...) eu desnudaria o meu corpo sempre que vocês desnudassem as vossas almas. Fui-vos escolhendo um a um, espreitando o bebedouro dos vossos sonhos, ainda que sem querer."
Llámalo deseo - José Luís Rodríguez del Corral
A alma trocada pelo tempo de um momento...

domingo, fevereiro 26, 2006

Pesadelo de sábado à noite, domingo de manhã

A escada é amarela não contrastando muito com as paredes brancas, as pessoas, demasiadas, passeando-se em encontrões com as restantes que riem alto no meio do rebuliço festivo, nada de anormal. É apenas uma noite como outra qualquer naquela casa que conheces, mas na qual nunca estiveste. Movimentas-te como os teus iguais (não), de copo na mão e cigarro na outra, no entanto não sorris ebriamente, mas sim em jeito desconfortável.
Nenhum dos outros está interessado na banda que toca a não seres tu, que páras porque conheces o som tão bem como o bater desenfreado do teu coração. Cada vez mais alto, mais forte, ensurdecedor. O coração já bate nos ouvidos e não no peito. A música cala-se pouco tempo após ter começado e tu já não o vês.
Aguarda. Sabes onde ele está.
A porta abre-se e o teu sorriso estampa-se nervoso, mas não vergas.
Elas saiem todas. Dão um retoque às roupas e cabelos desalinhados, mostrando-te os sinais de um encontro prostituído nos segundos da carne pura. Da carne que te pertence por noites passadas em claro, por momentos de pura contemplação, pela sinceridade de quem não exige para além do humano, pelo amor não declarado.
A incursão luxuriosa avança na tua direcção.
Uma delas ainda mostra os seios deliciada com o toque de que foi vítima, ouve-la enaltecer o tacto dele, ouve-la proferir o seu nome, o seu nome, o nome teu e dele, aquele só vosso.
Da boca dela sai o vosso nome de alcova.
É aqui que contas o milhar em frames.
Encontras o teu melhor sorriso, enquanto despreocupadamente lhe perguntas se foi ele que a tocou e bates palmas ante a confirmação.
Os olhos inchados abrem-se em ardor.
Agora o teu corpo espasma na cama alagada da transpiração do medo.
Não sabes onde estás, estas paredes não são as da tua redoma.
Isso!
Já encontraste o caminho para o chão da casa-de-banho.
Tenho pena de ti enquanto, fora do teu corpo, te vejo mergulhar a cabeça na sanita porque sentes o sabor a bílis deitar-se na tua língua. O vómito quente irrompe por entre lágrimas e tremores e o teu corpo lança-se para trás. Miúda... é tão triste o teu rastejar para a frente do espelho, o teu lavar frio da cara, a tua tentativa tremida de alinhares o cabelo baço.
Vá! Deita-te e dorme.
Pára de tremer!
Não vês que tudo não passou de um pesadelo demasiado real?
Mas foi só isso... um sonho mau.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Eu não Só

Entrar.
Apagar a luz stop.
Com o desejo desvirginar a vela madrepérola que descansa no metal negro.
Incendiar a meditação cheirosa.
Premir o ON de ti.
Afundar-me no fofo de chão.
A janela já está aberta.
Não são as mãos que me chamam.
Começa o grito melódico da lágrima, confundindo-se entre tristes nevoeiros, chamas e restantes entes que te rodeiam, no entanto, entre toda esta miscelânea sonora isolo a singelaprofundasinceraimponente melancolia do teu tocar.
Dou-te à morte, que te ouve e sorri.
Pergunta-me se é a lua, digo-lhe que não e deixo que te escute novamente.
Ouço-a gargalhar.
Em galope conta-me aquilo que tu não podes ouvir.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Água de lava

Depois da noite mergulho no quente pegajoso de mim. Da minha boca já não se notam as exalações metafóricas que lanço pelo ar eléctrico. Consigo ouvir o zumbido do teu pentear mecânico enquanto não me diriges o olhar. Vou pestanejar uma única vez, longamente, esquecendo que me apeteces agora e que te moves alvo, sulcando o chão sonoramente para que te sinta o estremecer nervoso dos passos.
Retiro as mãos da cama aquosa. Coloco-as à luz verde em jeito de raio-x. Transparências. Mergulho-as novamente, não quero que quebrem no frio.
Sais. Entras.
Voltas a saír.
Eu descanso na dormência da água agitada pelas tuas vindas silenciosas.
Invades de novo. Ignoro.
De novo o pentear mecânico, desta vez azul.
Envergas o negro de sempre, não demasiado, não pouco, o negro que baste para te sentires tu, para não seres um negro-eu.
Sais. Não sais.
Aninhas-te num canto do chão e olhas-me, quieto no fumo do cigarro que trilhas entre os lábios. Volto a face para a parede, faço de conta que não estás, porque não estás realmente. Coloco o indicador em jeito de silêncio, porque sabes que neste jogo não vale dizer o que ias verbalizar. Sabes que não adianta e eu já não tenho jogadas novas.
Rastejas para o meu lado e sinto-te enfiar as mãos no calor circundante à minha pele.
As águas continuam agitadas.
A tua mão húmida percorre-me a nuca, perde-se no meu cabelo, chega-me às pálpebras que fecho, desce à boca e saboreio-te a palma molhada.
Levantas-te e sais.
De novo.
Mais uma vez vais.
Escorrego o corpo pela água, agora serena, até não ver nada para além do turvo.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Lúcifer, o intermediário

Vejo-te deambular sem rumo dirigido a mim. Andas perdido nas sete colinas, à espera... Tenho vontade, porque sou feita de intensas vontades, de perguntar-te o que esperas dessa espera e tu caminhas por ruas estreitas enquanto te perguntas, como se eu pudesse ouvir-te aqui... tão longe...
Vasculho as células cerebrais em que guardo aquele fim de tarde quente, o sabor amargo de uma bebida mundana, as palavras cuspidas pelo ar, Lúcifer unindo as nossas margens, a tua corrida em busca da minha prenda, o riso ofegante quando chegaste com a caixa negra e me disseste “É para ti!”
Nesta manhã, não diferente das outras que têm sido vividas em constantes gritos mudos, pergunto-me e interrogo-me se te perguntarás também.
Terá chegado a altura de dizer adeus àquela menina?

domingo, fevereiro 19, 2006

A quem possa interessar

Para que não julgues que eu não sou tão mortal como tu que estás aí num qualquer computador, num sítio qualquer, que sinceramente nem me interessa saber. Porque e assumo, não tenho nada melhor que fazer e não me apetece criar cenários, verdadeiros ou não garanto-te que têm sempre algo de mim, mas não julgues que me conheces por aquilo que escrevo. Ingeres apenas, repito APENAS, aquilo que te dou a "comer" e nada mais!
Mas... onde é que eu ia mesmo?
Nos cenários!
Como te dizia não me apraz neste momento estar a curtir palavras numa pele demasiado cansada, bem como a mente, para não falarmos do corpo! Sim!! Lamento desiludir-te, mas eu sou humana sabias? Lamento e citando uma amiga minha, "Life is shit and then we die!"
Mas vamos ao que era suposto ser simples, não pretendo desviar-me da rota traçada aquando do início deste texto (se o entenderes como tal) e vou contar-te algumas das minhas manias, não porque tenha sido intimada mas porque realmente quero que saibas.

1 - Quase não me alimento, porque raramente tenho fome;
2 - Só dedico tempo ao e a quem realmente me interessa;
3 - Tenho ódios de estimação;
4 - Apoio a selecção de Inglaterra, mesmo quando joga contra Portugal;
5 - Os Moonspell são a melhor banda do mundo.

Satisfeit@?
Temos pena mas parece que te contentas com Muito Pouco...

P.S. Não intimo ou convoco ninguém para este so called "blog game" porque, basicamente, não sou da PJ.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Temporalmente fora de tempo

Queria escrever mas não tenho tempo. Perco-me no tempo em que não estás, não sinto o tempo em que ficaste, ocupo a memória no tempo dos instantes passados e corro no tempo que me falta para ir até ti.
Perdes-te no tempo em que não te ocupo as imagens, em contradição com o tempo em que dás voltas no meu pensamento. Desvaneço-me em tempo que passou e a memória rouba o tempo livre sem ti para o inundar com o tempo de nós.
Falta-me o tempo em que, em outros tempos, ganhávamos tempo no beber do café enquanto tu cantavas o tempo que nos sentávamos assim... colados...
Espera!
É a tua vez de esperares.
Mais umas horas no tempo e o meu tempo será aquele em que te passeias...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Tatuagem de fogo

"Sufletul meu iti apartine,
nu ma pot regasi fara tine..."

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Para um (não qualquer) MENINO

E assim em segundos mais rápidos que uma bala de prata arrancas o sorriso sincero que me havias deixado. Continuo a minha conversa de carinho e alento com a Morte, que do outro lado de uma linha mais que extra-sensorial me dá um colo onde eu possa repousar a cabeça, porque o abismo cavado entre o teu abriu-se numa fenda sem dimensão possível de contabilizar. Não me peças para pôr por palavras porque nunca conseguirei, é aqui que o chão dá de si, é aqui que elas me faltam, é aqui que as palavras que vomito por ti começam a escassear. Não consigo explicar-te o porquê porque eu também não o sei.
A Morte fala-me das ruas da amargura que tenho percorrido incansavelmente por ti, asseguro-lhe que nem que as tenha que caminhar eternamente o farei, por ti! Sempre por ti!!!
Mando calar a minha companheira de horas, porque o vento traz notícias tuas.
As pernas tremem, não consigo manter o equilíbrio, caio por terra. Os dedos não têm força para rasgar o papel e receiam as tuas palavras cortantes. Gosto quando elas chegam fazendo sentir aquele quente do sangue, levando a pele ao rubro, mas temo que venham abrir uma ferida podre, infectada, já sem vida, da qual já nada brota.
Diz-me, como posso estancar as lágrimas teimosas que os meus olhos não conseguem conter?
Durante a noite perguntaste o que é que eu tinha visto em ti, eu digo-te!!!
Eu não vi o teu passado, nem quero ver, sei das dores, sei que estamos os dois demasiado estragados para qualquer inocência e no entanto somos meninos, meninosdoridos num momento em que a distância se impõe e as dúvidas envenenam pela ausência da palavra mágica.
Tu! Sim tu! Afasta toda e qualquer dúvida, isto é para ti!!!!
Tu levaste-me a um sítio alto e mostraste-me todos os reinos do mundo...

We're damaged people
Drawn together
By subtleties that we are not aware of
Disturbed souls
Playing out forever
These games that we once thought we would be scared of
When you're in my arms
The world makes sense
There is no pretense
And you're crying
When you're by my side
There is no defense
I forget to sense
I'm dying
We're damaged people
Praying for something
That doesn't come from somewhere deep inside us
Depraved souls
Trusting in the one thing
The one thing that this life has not denied us
When I feel the warmth
Of your very soul
I forget I'm cold
And crying
When your lips touch mine
And I lose control
I forget I'm old
And dying
"Damaged People" - Depeche Mode

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Let the games begin

As palavras com e sem sentido amontoam-se desordeiramente no resto dos dias que passaram desde que invadi a tua arena sorrateiramente camuflada por músicas que me haviam triturado algumas horas antes, marcando uma noite para todo o sempre memorável. O meu corpo desvanecia-se entre os gritos lascivos do Gahan e a procura do teu olhar misturado com as bocas troantes que me circundavam.
E eu queria-te ali...
Corri pelo teu covil o mais silenciosamente que consegui mas a neblina entregou-me aos teus ouvidos, contou-te os meus passos, revelou-te a minha presença escondida.
Vieste caçar-me!
Entraste impávido e sereno na minha cidade fazendo ruir os corpos noctívagos que me acompanhavam, perseguiste-me por escadas mais íngremes que uma noite sem fim, ignorei-te num momento e tu imprimiste-te no meu dorso como uma segunda pele.
Algemas-me com as palavras que surgem na menina dos teus olhos.
Ofereces-me o polegar para que o guarde junto ao peito que se ergue ao teu odor.
Defrontas-me através da pouca luz envolvente, aproveitas o meu sorriso distraído para me fazeres caír em cima de ti e acabas a noite com palavras de sossego ao meu inquieto movimentar.
Gosto deste nosso cortejar letal.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Sibilei-te ao ouvido

Prometo-te a doçura de um engano que agora não vês.
Roubo-te ao rebanho angelical. Tu! O querubim favorito!
Seduzir-te-ei até aos limites que nunca te deixaram conhecer.
Dá-me a tua mão e vem, não temas.
Enquanto encostas a face envergonhada ao meu farto peito alvo, delicio-me arrancando um por um os dourados que te coroam.
Deleita-te em mim enquanto o tempo pára.
Ninguém nos ouve enquanto os corpos queimam.
Fito os olhos do teu senhor, vejo-o chorar até se consumir em sal. Oiço o lamento por ti, pois nenhuma das suas ovelhas era tão perfeita como tu, meu doce anjo desvirtuado.
Não te aninhes a mim porque quero que partas.
Deixa-me o merecido troféu, as tuas asas.
O mundo como o conheces acabou.
Sente a repulsa perante ti, agora que já em nada te assemelhas a esses coros bradantes.
Ficarás só, ao lado desse déspota que um dia me baniu ao descobrir o meu mais precioso segredo, o sangue da vida.
Eu que fui expulso sob chicote.
Eu que caí do mais alto dos reinos.
Eu que agora saliento a jugular em forma de comando!
A mim Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Potestades, Virtudes, Principados, Arcanjos e Anjos!!
Eu que um dia penei ao vosso lado, instigo a que perfilem no meu séquito!
Olhai para mim e vede!
Eu tenho tudo para ser a eterna favorita.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

O meu leito será vermelho

Se soubesses que fraquejei o que pensarias? Olha para mim, eu mostro-te o que não é bonito de se ver. Os meus olhos provocam dilúvios por ti. Choro copiosamente a dor de não te ter aqui, das noites que passo sem o teu enroscar carnal, sem o teu cabelo a proteger o meu corpo do frio que sopra debaixo dos lençóis.
É assim enquanto tu não vens usurpar o teu lugar. Um grande nada em que faço um sono secular e aguardo.
Espero porque a vontade de cumprir a palavra dada é mais forte do que um aríete. Porque sem ti não vale a pena.
Escolho não saír daqui, insisto na inquietante espera, sei que tu virás.
Aconteça o que acontecer tu irás encontrar-me!
Porque sabes que estou aqui, eternamente penteando a única madeixa de ouro que me deixaste para que não esquecesse o sabor do teu suor. Vou rasgando pedaços de pele da mão esquerda, tento desfazer o anelar para que não me peça a tua marca de fogo.
Escrevo no cetim cartas que não te enviarei, são os segredos que te quero contar quando estiveres a olhar-me bem dentro dos olhos, quando eu for a tua cama. Atiço a imaginação até uma noite que está para vir em que me pedes para gatinhar até ao teu olhar, em que me abraças o corpo arfante. Encosto a minha boca a ti, enterrando bem fundo a língua pérfida e tu morres para que eu possa viver...

domingo, fevereiro 05, 2006

Saudoso (des)concerto mental

Regresso agora à frágil fortaleza em que habito e que me tira a partilha momentânea de um mesmo pedaço de céu contigo. Revirei a noite em cansaço, em olhares inquiridores, em demasiada bebida, mergulhada em fumo, rostos que passavam demasiado rápido para que os pudesse fixar, o sorriso insatisfeito, o frio que vinha de dentro, o corpo nervoso, a mente inquieta, interrogaçõesinterrogaçõesinterrogações, a música demasiado alta e os corpos aos berros para se fazerem ouvir.
Na minha cabeça a voz do Vincent Cavanagh cantava em lamento "Where are you tonight? Wild flower in starlit heaven / Still enchanted in flight/ Obsessions lament to freedom / A timeless word, the meanings changed/ But I'm still burning in your flames / Incessant,lustral masquerade / Unengaged, dimlit love didn't taste the same / And I still wonder if you ever wonder the same / And I still wonder..."
As palavras agregavam-se repetidamente no meu cérebro e eu sorria para assustar as saudades da melancolia do teu tocar.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Exalo a ti

De uma qualquer forma estranha sinto-te como se estivesses com os olhos postos em mim, o estudo do movimentar, o aguardar do próximo passo. Esperas... pacientemente, devagar, com a calma de um menino que se senta no degrau enquanto não o chamam para brincar. O teu observar excita-me, faz-me vestir languidamente para que consigas vislumbrar cada centímetro da pele que a seda fria envolve. Viro-me para correr o fecho que me sobe vertiginosamente pela espinha, acaricio a nuca e observo-te pela diagonal do olhar. A tua língua molha viperinamente os lábios, quase como num convite.
Quase...

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Doce proscrita

Sinto-me a pecadora que o temido deus nunca quis salvar. Sinto-lhe o assobiar do chicote nas minhas costas, esperando o pedido de clemência. Não o verbalizarei!
Não sou Madalena, mas quero caminhar como ela, gravando os meus passos em brasa no mármore de palácios corrompidos. Quero o voltar das cabeças aquando do meu deslizar. Quero o implorar de olhares de cama. Quero o vender das almas ao diabo pelo simples prazer da minha fria companhia. Filas intermináveis de mentes ansiando a minha escolha, tremendo quando lhes estendo a mão.
Quero o poder bamboleante na ponta da língua. Proferir a palavra-arma. Quero ser uma déspota da alcova, governar pela promiscuidade das luzes. Cravar os caninos afiados e beber o sangue do primogénito. Quero um anjo e fá-lo-ei chorar por mim, quero trazê-lo por uma trela e que me lamba a mão em sinal de obediência..
Eu conspurcada em todos os tempos.
Eu uma rainha de noites de insónias.
Eu que um dia falhei morrer.
Eu… ofereço redenção em troca de uma alma pura.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Acompanha-me

Traço o teu rosto no ar desenhando na imperfeição os contornos que ilusoriamente afago. As horas estão a tentar esbater a tua imagem e eu agarro-a, não a deixo ir. Escondo-a em mim, bem longe da cobiça do tempo, das mãos esfomeadas do desprezo. Por vezes solto-a para que rodopie em torno de mim. Então danço em fogo, rodo em infinitas centelhas vertendo-me pelo chão , delicio-me no calor de lembranças que sei que não irão voltar e arranjo espaço em mim para as novas que pregarei na palma das mãos.
Paro a dança.
Ouço o dilacerar dentro de mim.
Vejo o rasgar do véu que me cobre.
As memórias de ti deambulam sem o meu toque.
Perdoa a avidez do olhar, a sede da palavra esperada.
Sigo o caminho de chamas.
Dentro de mim...