Post-it para mim
Lembra-te que o tempo avança depressa, mas lento de mais para quem anseia a palavra fogo. Lembra-te que existem dias sem fim, que catapultam para o fundo do mar a dor sentida no quente-frio que está lá fora trazido agora para dentro de mim. Lembra-te que, mesmo quando a porta não se abre, mas as janelas do olhar escancaram-se até depois da linha do horizonte distante, a alma aproximou a névoa enquanto os ponteiros do relógio se entretinham em rodar ao contrário. Lembra-te agora dos segundos manipulados por mãos rasgadas, incrédulas e inertes que jamais sonharam ter vida entre elas, habituadas a acariciar a morte entre nuvens doces de óleo ensanguentado.
Lembra-te da vida antes e depois da tarde quente que já passou e sobre ela passaram mais tardes e noites que continuas a viver acreditando. Lembra-te que sobre a carne já passou o aglomerado de dias riscados na parede onde a água escorre, lavando as letras das tuas cartas agrilhoadas ao futuro negro.
Lembra-te.
Lembro-me.
Escreve-me a branco, numa folha igual para que não me leia mas que recorde o esquecimento.