5h e 3 minutos.
Segundo após segundo.
Cinco horas e três minutos.
Segundo após segundo.
Cinco horas e quatro minutos.
Os cigarros amontoam-se sobre os centésimos de segundos. É a dormência, a passividade sem cor, uma cratera imensa onde nada se encontra. Um espaço limpo, desprovido de nada.
As paredes não sufocam. Não há paredes.
Não há oxigénio, sobrevive-se com menos do que isso. Há um eu transparente, a teimosia em consumir fragmentos de milhares de personagens ridículamente adoráveis, pequenas marionetas dóceis como cães. Sempre esperei vislumbrar-lhes aquele esgar de dor agonizante, o presságio de que rasgariam a pele parindo a perfeição, mas as marionetas são tão vazias, não se movimentam sem mim. Deitam-se quietas e chamam-me. Ouço-as sussurrar baixo, cada vez mais baixo , que a perfeição nasce da morte.
Quando tudo o resto falha, imobilizo a mente e deixo o corpo ir enquanto espero que não volte... Já não tenho mais linha com que suturar as feridas e as marionetas precisam de dormir.