quarta-feira, janeiro 31, 2007
Pela fotografia que ainda não tirei e se espalha ao meu olhar a cada acordar...
Pelo primeiro som que se faz ouvir...
Pela água que escorre pelos (a)braços que apertam o peito...
Tem que ser assim...
segunda-feira, janeiro 29, 2007
quarta-feira, janeiro 24, 2007
"The Dreamworld, the Dreamtime, the Unconscious... call it what you will, Is as much part of me as I am part of it."
Neil Gaiman, The Sandman - Preludes Nocturnes
Um mundo feito de todas as partículas dos intervalos do tempo, dos sons que se erguem sobre todas as vozes aniquilando-as, das visões paralelas à realidade que envolve a alucinação. O sonho. A percepção. A visão clara da sombra das palavras.O sonho que liga o mundo acariciado na ponta dos dedos ao palpitar no silêncio. Cá dentro. Interno. Silêncio. Incólume.O sonho no mapa das linhas de sangue que conduzem...
sexta-feira, janeiro 19, 2007
Daddy's girl
O segundo e o último nome são teus.
As mãos dela são as tuas.
O olhar de medo, foste tu que lho ofereceste.
Era de noite e levaste-a para andar na abelha Maia que ficava naquela praça junto ao jardim. Aquele jardim ao lado do mercado, onde ela dizia sempre: "Cheira aos peixinhos! "
Levaste-a pela mão, a mão pequenina sempre cravada na tua, os pés pequeninos, aos saltos, porque queria dar passos tão grandes como os teus.
Chegaram à praça, sentaste-a na abelha Maia e com uma moeda deste-lhe uma viagem de minutos, nas costas de um insecto sorridente que cantarolava a par com ela. Porque ela sabia a canção toda, lembras-te?! Hoje em dia, ela já não se lembra da letra da canção, mas de vez em quando ainda lhe ecoa na mente.
A abelha parou e foram aos gelados, não havia visita ao jardim sem que ela tivesse direito a um copo de gelado de chocolate, era sempre de chocolate. E ela não conseguia comer à velocidade devida e acabava sempre por sujar o vestido, as mãos , a cara ficava num estado lastimável das lambidelas no gelado.
Recordas-te dos gelados de chocolate? Não! Ela sabe que não te lembras, mas lembra-se de ser noite e tu a levares para o jardim que ficava ao lado da praça da abelha Maia. Lembra-se de trazer o copo de gelado nas mãos, de chamar por ti e tu não estares lá.
Ficou muito quieta e piscou os olhos porque estava escuro e os bancos do jardim e as árvores pareceram-lhe enormes. O gelado escorria-lhe pelas mãos e ela ali, no meio do jardim a afastar o cabelo dos olhos, porque com toda a certeza tu estavas lá, ela é que não estava a conseguir ver-te, porque tu nunca a irias deixar ali. Só.
Continuou a chamar-te, gritou por ti o mais que a voz de 5 anos permitia e as lágrimas deixavam. No meio dos berros apareceu uma senhora que lhe perguntou se estava ali sozinha, se sabia o nome, onde morava, o nome do pai, da mãe, como é que ela se tinha perdido. Ela disse tudo o que sabia, o que se conseguia lembrar e foi então que tu apareceste. Vinhas a rir.
A menina não percebeu porque é que rias, já que ela chorava copiosamente. A senhora olhava para ti atónita enquanto tu lhe explicavas que eras o pai e que, teres-te escondido, tinha sido apenas uma brincadeira. Uma brincadeira que lhe pareceu interminável… Ela olhou para cima, para ti, abriu os olhos o mais que pôde. Tu continuavas a rir e a única coisa que disseste foi: “Olha para ti, estás toda suja de chocolate.” , não lhe perguntaste se tinha tido medo do escuro, medo de não te voltar a ver, de não voltar a ver a mãe, as bonecas, o cão, tu não lhe disseste nada. Limitaste-te a agarrar-lhe na mão, sem força, e a levá-la para casa.
Ela não fez o caminho aos saltos.
E não se importou se chegava a casa.
quinta-feira, janeiro 18, 2007
About... (primeira migalha)
"(...) His sister [Isis] hath protected him, and hath repulsed the fiends, and turned aside calamities (of evil). She uttered the spell with the magical power of her mouth. Her tongue was perfect, and it never halted at a word. Beneficent in command and word was Isis, the woman of magical spells, the advocate of her brother. She sought him untiringly, she wandered round and round about this earth in sorrow, and she alighted not without finding him. She made light with her feathers, she created air with her wings, and she uttered the death wail for her brother. She raised up the inactive members of whose heart was still, she drew from him his essence, she made an heir, she reared the child in loneliness, and the place where he was not known, and he grew in strength and stature, and his hand was mighty in the House of Keb. The Company of the Gods rejoiced, rejoiced, at the coming of Horus, the son of Osiris, whose heart was firm, the triumphant, the son of Isis, the heir of Osiris."
«Que eu caminhe sobre as águas celestes,
Que eu honre o brilho do sol,
Como luz do meu Olho...
Eu sou o Grande Deus,
Vindo à existência por si mesmo,
Eu componho os meus nomes,
Ontem pertence-me,
Eu conheço o amanhã,
Eu sou a Fénix,
Não há impureza em mim,
Eu conheço o caminho,
Eu vou para a ilha dos justos,
Eu chego ao país de luz,
Eu reconstituo o Olho,
Eu vejo a luz...
Eu sou um desses espíritos
Que habitam a Luz,
Que o próprio Áton criou,
Que vieram à existência,
Da raiz do seu Olho.
Eu sou uma dessas serpentes
Que criou o Olho do Mestre Único.
Eu crio o Verbo,
Eu resido no meu Olho.»
The Egyptian Book of the Dead, The Papyrus Of Ani
There's so much more than...
terça-feira, janeiro 16, 2007
Perigo e medo!
Agradece-se à alma caridosa que consiga encontrar as minhas insónias.
Não acho normal adormecer, em questão de segundos, tão profundamente que a casa pode caír-me em cima sem que eu dê por ela!
Sim eu sei que isto soa um pouco estúpido, mas começo a ficar preocupada. Já duvido que eu seja eu!!
Querem ver que fui raptada pelos cabeçudos de verde florescente?
Ai!!! É que não quero uma gaja estranha a mexer nas minhas coisas!
segunda-feira, janeiro 08, 2007
La chica de los botins talla 40
Nos tempos idos em que era criança e a minha mãe fazia de mim a sua boneca de eleição, a minha autoridade não ia muito para além da fala. Ou seja, eu não conseguia controlar toda a roupa cor-de-rosa que chovia em cima do meu pequeno corpo e muito menos os ridículos “puxinhos” em cada lado da cabeça. Para quem não sabe, “puxinhos” são aqueles rabos de cavalo laterais que nos fazem ficar com ar de Lolita, mas não aos 6 anos!! Ora convenhamos, isto anexado a fatiotas “à menina” dava-me um ar anormal, que eu prontamente fazia questão de verbalizar com um sonante: NÃO GOSTO! PAREÇO ESTÚPIDA!!! acompanhado de uma expressão facial de acordo com a situação.
Visto que a minha idade e não só, já me permite dizer o que bem quero e entendo (desenganem-se os que acham que eu digo tudo o que me vem à cabeça sem sequer pensar uma única vez, ou talvez sim, ou talvez não, ou fiquem na dúvida hehehehe).
Porque hoje estou em modus operandi menina mimada.
Visto que a minha idade e não só, já me permite dizer o que bem quero e entendo (desenganem-se os que acham que eu digo tudo o que me vem à cabeça sem sequer pensar uma única vez, ou talvez sim, ou talvez não, ou fiquem na dúvida hehehehe).
Porque hoje estou em modus operandi menina mimada.
Porque estou um pouco déspota, porque porque porque…
Porque simplesmente me apetece:
odeio que não me entendam quando eu sou tão fácil de ler
odeio ter as mãos sujas
odeio conseguir estar só no meio de uma multidão
odeio os meus óculos azuis, mas gosto dos livros que me “abrem”
odeio a mania de catar migalhas mesmo querendo comer o pão
odeio as mãos atadas especialmente quando sei que o estão e as cordas não têm pontas
odeio que me caia cabelo
odeio que me mintam
odeio que a selecção de Inglaterra tenha perdido o mundial ( não me venham com as bocas do costume)
odeio ter desmaiado ao telefone
odeio o frio cortante, mas adoro comer gelados no inverno
odeio que me tivessem mergulhado no mar à força, no entanto adoro nadar sozinha
odeio estar longe dos que trago no coração e amo incondionalmente
odeio ter, um-dia-uma-noite, chorado durante 10 horas e no dia seguinte ter direito a uma conjuntivite como bónus
odeio que me cravem com a frase “Orientas-me um cigarrinho?”
odeio conduzir, mas adoro aninhar-me no banco enquanto me conduzem
odeio que achem saber o que é melhor para mim
odeio que o trabalho corra mal (como ontem e hoje GRRRRRRRRRR)
odeio ir à praia nas horas de calor, mas adoro a areia de Carcavelos que ainda está na minha toalha
odeio que as minhas mãos tremam nas situações mais inoportunas
odeio os Nirvana e bandas que me dão nos nervos, mas adoro que me mostrem músicas novas
odeio a minha memória de “Torre do Tombo”, mas não quero formatar o “disco”
odeio a desilusão, no entanto cultivo a crença, nos outros inclusivé
odeio vomitar
odeio que a minha professora de piano me tenha batido nas mãos ao ponto de me levar a desistir, mas gosto de saber onde ficou o dó ré mi fá sol lá si dó
odeio esperar, mas não uso relógio
odeio os dias em que escondo a cabeça debaixo dos cobertores porque tenho medo do mundo lá fora
odeio ter punido o meu corpo durante anos
odeio que me vejam “quebrar”, mas é importante que estejam lá para mim
Porque simplesmente me apetece:
odeio que não me entendam quando eu sou tão fácil de ler
odeio ter as mãos sujas
odeio conseguir estar só no meio de uma multidão
odeio os meus óculos azuis, mas gosto dos livros que me “abrem”
odeio a mania de catar migalhas mesmo querendo comer o pão
odeio as mãos atadas especialmente quando sei que o estão e as cordas não têm pontas
odeio que me caia cabelo
odeio que me mintam
odeio que a selecção de Inglaterra tenha perdido o mundial ( não me venham com as bocas do costume)
odeio ter desmaiado ao telefone
odeio o frio cortante, mas adoro comer gelados no inverno
odeio que me tivessem mergulhado no mar à força, no entanto adoro nadar sozinha
odeio estar longe dos que trago no coração e amo incondionalmente
odeio ter, um-dia-uma-noite, chorado durante 10 horas e no dia seguinte ter direito a uma conjuntivite como bónus
odeio que me cravem com a frase “Orientas-me um cigarrinho?”
odeio conduzir, mas adoro aninhar-me no banco enquanto me conduzem
odeio que achem saber o que é melhor para mim
odeio que o trabalho corra mal (como ontem e hoje GRRRRRRRRRR)
odeio ir à praia nas horas de calor, mas adoro a areia de Carcavelos que ainda está na minha toalha
odeio que as minhas mãos tremam nas situações mais inoportunas
odeio os Nirvana e bandas que me dão nos nervos, mas adoro que me mostrem músicas novas
odeio a minha memória de “Torre do Tombo”, mas não quero formatar o “disco”
odeio a desilusão, no entanto cultivo a crença, nos outros inclusivé
odeio vomitar
odeio que a minha professora de piano me tenha batido nas mãos ao ponto de me levar a desistir, mas gosto de saber onde ficou o dó ré mi fá sol lá si dó
odeio esperar, mas não uso relógio
odeio os dias em que escondo a cabeça debaixo dos cobertores porque tenho medo do mundo lá fora
odeio ter punido o meu corpo durante anos
odeio que me vejam “quebrar”, mas é importante que estejam lá para mim
odeio quando bebo mais do que devia
odeio que a minha avó tenha morrido
odeio que os cigarros me saibam mal, especialmente depois de ter fumado imenso, no entanto insisto
odeio beber água em demasia, mas venero a minha paixão por chá
odeio o calor intenso, mas adoro a hipnose do fogo
odeio esta mania intrínseca de procurar respostas às perguntas que nunca verbalizei
odeio tentar vender a alma ao diabo sem sucesso
odeio as minhas voltas de carro ao som de Anathema, mas amo a paz que me trazem
odeio a busca da perfeição, mas não consigo exigir-me menos
odeio o “sentimento danoninho”: falta sempre um bocadinho assim! GRRRRRR
odeio ter que explicar o óbvio
odeio corar
odeio que me assustem, mas gosto que me tapem os olhos
odeio a minha escrita, no entanto adoro esta masturbação mental
odeio a palavra adeus
odeio todos os obstáculos que apareceram no meu caminho, mas orgulho-me da mulher em que me tornei
odeio ter que seguir em frente quando o que me apetece é virar à esquerda
odeio frases que começam por odeio.
odeio que a minha avó tenha morrido
odeio que os cigarros me saibam mal, especialmente depois de ter fumado imenso, no entanto insisto
odeio beber água em demasia, mas venero a minha paixão por chá
odeio o calor intenso, mas adoro a hipnose do fogo
odeio esta mania intrínseca de procurar respostas às perguntas que nunca verbalizei
odeio tentar vender a alma ao diabo sem sucesso
odeio as minhas voltas de carro ao som de Anathema, mas amo a paz que me trazem
odeio a busca da perfeição, mas não consigo exigir-me menos
odeio o “sentimento danoninho”: falta sempre um bocadinho assim! GRRRRRR
odeio ter que explicar o óbvio
odeio corar
odeio que me assustem, mas gosto que me tapem os olhos
odeio a minha escrita, no entanto adoro esta masturbação mental
odeio a palavra adeus
odeio todos os obstáculos que apareceram no meu caminho, mas orgulho-me da mulher em que me tornei
odeio ter que seguir em frente quando o que me apetece é virar à esquerda
odeio frases que começam por odeio.
Beijos e abraços, de mim, da miúda que já não veste de cor-de-rosa
Eye of Horus ;)
P.S. Agradeço à minha querida A por me ter cedido o desenho que é do Dominic Murphy
quinta-feira, janeiro 04, 2007
Vou aninhar-me em sonhos. Fazer das palavras leito e talvez, assim, consiga dormir.
Pudesse eu espalhar-me pelo vento e ir...
Pudesse eu espalhar-me pelo vento e ir...
terça-feira, janeiro 02, 2007
Caracóis de prata
Minha doce avó, minha eterna dívida de amor...
O tempo já mudou minha querida e dizem que o ano vai ser perfeito. Mas tu não estás cá para ver...
Este ano, que findou, não te escrevi no aniversário da tua viagem, perdoa mas simplesmente não conseguia ver para além do meu corpo cortado, alinhado com o coração estilhaçado. O meu coração partiu-se no dia em que em que te foste... Perdoa não te ter passado a mão pela face envidraçada, mas estava escondida no meio das árvores, tentando colar os pedaços o melhor possível, esperando que os rasgos na pele se unissem de modo a que não se vissem as linhas tortas da falta de ti.
Sei que me viste avó, senti a tua mão puxar-me para ti, muito devagar para que não me assustasse, como se faz a um animal magoado que procura um canto escuro para lamber as feridas.
A dor era tanta minha querida que a alma rasgou-se e o mundo parou para ouvir o meu dilacerar, mas eu fiz o melhor que podia e sabia,tu sabes que sim!
Este ano, que findou, não te escrevi no aniversário da tua viagem, perdoa mas simplesmente não conseguia ver para além do meu corpo cortado, alinhado com o coração estilhaçado. O meu coração partiu-se no dia em que em que te foste... Perdoa não te ter passado a mão pela face envidraçada, mas estava escondida no meio das árvores, tentando colar os pedaços o melhor possível, esperando que os rasgos na pele se unissem de modo a que não se vissem as linhas tortas da falta de ti.
Sei que me viste avó, senti a tua mão puxar-me para ti, muito devagar para que não me assustasse, como se faz a um animal magoado que procura um canto escuro para lamber as feridas.
A dor era tanta minha querida que a alma rasgou-se e o mundo parou para ouvir o meu dilacerar, mas eu fiz o melhor que podia e sabia,tu sabes que sim!
Continuas aí...
Sinto-te aí...
Hoje e sempre paralela a mim, abraçando-me ainda que longe, como fazias quando eu corria para te saltar para o colo, para me encostar ao teu ventre quente.
Sabes, passado tanto tempo, ainda consigo ouvir o teu caminhar acelerado e se fechar os olhos com muita força, vejo-te os caracóis prateados que eu insistia em desalinhar pelo simples prazer de neles mergulhar os meus dedos. Ralhavas comigo porque eu te deixava completamente despenteada e eu ria que nem uma tola e dizia-te sempre que assim ficavas mais na moda. Sabia que sempre que o fazia tu adivinhavas o que eu queria... Parece que te estou a ouvir, "Meu diabrete, meu único amor! Senta-te bem quietinha para a avó te pentear!" e eu fingia sempre que ficava contrariada por ter que me sentar durante tempos infindos, enquanto tu me escovavas o cabelo vezes sem conta até que brilhasse mais do que uma estrela cadente. Adorava cada minuto em que a escova descia e fechava os olhos quando me beijavas a testa no final.
Na manhã em que te foste amarrei o cabelo o melhor que pude, mantive-o assim nas horas-semanas que se seguiram, tão intermináveis. Recordo-me que a mamã entrou no meu quarto, os olhos dela fixaram-se no cabelo preso, agrilhoado à minha nuca e o semblante fechou-se ainda mais. Não conseguimos trocar uma única palavra, um único abraço.
Numa outra noite, ainda nas horas doridas, em que soltava o cabelo antes de me deitar a mamã entrou no meu quarto, trazia a minha escova na mão, aquela, a grande. Sentou-se na minha cama e puxou-me em silêncio para ela. No segundo seguinte os dentes da escova começaram a abrir caminho por cada fio castanho até às minhas costas, num compasso cirúrgico com as lágrimas e aí a mamã parou. Quando me voltei para a abraçar, ela olhava para a escova como se esta fosse detentora da única resposta que ela queria ouvir naquele momento.
Desde essa noite a tua filha não me penteou mais e eu, a filha da tua filha, continuo a pegar na escova em jeito de ritual, como se a cada deslizar tu voltasses para mim. Mas tu nunca voltas e eu continuo a pentear-me só, porque nunca mais ninguém teve a coragem de mergulhar os dedos nos meus cabelos...
P.S. Devia-te as palavras que não me cobras. Devo-te as visitas em que não me vês, porque me doi passar a mão na tua cama gelada. No entanto, trago-te um sorriso novo, em paz. De mim para ti.